Entrevista - metalsucks.net - 2009

Entrevista - metalsucks.net - 2009
com Johnny Kelly




Como parte do metal gótico original do Type O Negative, os talentos do baterista Johnny Kelly são frequentemente ofuscados pelo baixo sensual e as artimanhas do baixista/vocalista/modelo de nu artístico Peter Steele. Mas sua graciosa habilidade com o bastão tem mantido a banda unida desde o álbum de 95 (nota da tradutora: é de 96!) - October Rust - e os álbuns que saíram em seguida se mantém ombro a ombro com os materiais anteriores. Junto com a bateria do Danzig, Kelly toca no Seventh Void um metal tradicional, com o guitarrista do Type O Negative, Kenny Hickey.
A banda lançou seu primeiro álbum pelo selo do Vinnie Paul, a Big Vin Records, em abril. Em entrevista a MetalSucks, Kelly comenta o futuro do Type O Negative, o trabalho com o Glenn Danzig, e os seus pensamentos sobre os novos bateristas.


MS - Como está indo a vida?
JK - Está um pouco caótica.

MS - Mesmo? Como?
JK - Bem, tem muita coisa girando em torno do release do Seventh Void. Só estamos tentando ordernar tudo.

MS- Isso é bom.
JK - Equilibrar isso, as bandas, a família e outras coisas é bem trabalhoso.

MS - Posso imaginar. Você ainda consegue manter sua cabeça fora d'agua no meio disso tudo?
JK - Eu tento [risos]. Às vezes você sente como se engolisse água.

MS - É, posso imaginar. Você pode nos falar um pouco sobre estar na Big Vin Records?
JK - Sim, nós nunca consideramos outra oferta ou nada parecido. Nunca passou pela gente. O Vinnie sugeriu algumas vezes sempre que ocorria um revés com alguma coisa. Levou tanto tempo para sair o álbum, para juntar tudo, e até aquele ponto foi como esperar uns meses para fazer. Não havia um prazo final ou coisa assim. A agenda está funcionando bem.
Ainda bem que não está competindo com nada exceto o Type O Negative, ou qualquer outra coisa que o Vinnie ou qualquer outro envolvido não pudesse devotar 100% para levantar o álbum.


MS - Como foi a experiência de gravar esse álbum?
JK - Foi bastante casual. Não havia nenhuma pressa para nada. Quando ficamos disponíveis para entrar no estúdio e gravar as músicas, nós fizemos. Nós mandamos as faixas para o Texas, assim o Vinnie e Sterling (Winfield, produtor do Pantera) podiam trabalhar nelas. Após eles terem conseguido tempo para trabalhar nisso, eles fizeram. Foi legal não ter ninguém te pressionando ou respirando atrás de você. "Hora de entregar. Você tem dar isso. Tem que dar aquilo." Não houve nada disso.

MS - Você diria que foi uma experiência mais positiva do que você está acostumado ao longo das gravações?
JK - Eu não diria isso. Foi somente um trabalho intensivo. Por vezes psicótico. Suga muito de você. Sempre que você coloca muito esforço em algo emocional, isso leva um pedaço de você. Foi, na maior parte, uma experiência legal. Foi um lazer, então não foi nada como não deveria ser.

MS - Você ainda toca bateria no Danzig?
JK - Danzig? Sim. Eu estive na Califórnia em fevereiro, e fiz uns shows na Costa Oeste, e passamos um dia no estúdio enquanto estive lá. Deixamos um pouco do trabalho feito.
Eu venho tocado com eles desde 2002... E finalmente consegui uma gravação, estou realmente animado com isso [risos].

MS - o que você diria que é diferente entre isso e gravar com o Danzig? Seria como uma experiência diferente?
JK - Bem, com o Glenn a experiência que eu tive tanto com ele quanto com a gravação, foi que eu estava aprendendo os materiais no momento. Eu não peguei nenhuma música antes de entrar em estúdio, então foi literalmente sentar na bateria, fazer sons e então ele entrava com a guitarra e dizia "Essa é a música e eu quero que você vá disso para isso, é mais ou menos isso que estou procurando."Então nós tocamos isso um monte de vezes, e eu tentava coisas diferentes e ele dizia "Tudo bem, que seja. Isso parece legal. Faça isso" - ou então - "Estou procurando uma outra coisa." Foi bem coisa de momento, tradicional e mais impulsivo do que sentar e pensar sobre o que fazer e realmente compreender a música. Foi mais espontâneo. E isso é legal também. É definitivamente mais desafiador ver o que você pode fazer enquanto você é literalmente bombardeado e precisa responder. Então foi bem legal de um certo modo, uma experiência e aprendizado.

MS - Experiências como essa fazem de você um baterista mais forte, certo?
JK - Creio que sim. Te ajuda a se adaptar melhor. Se você responder positivamente quando for jogado em certas situações, então sim, com certeza faz de você um baterista melhor.

MS - O que você pode dizer sobre a gravação com o Seventh Void? O que te levou a fazê-la? O que você faz tocando no Seventh Void que você talvez não conseguisse no Type O ou Danzig?
JK - Músicas curtas [risos]. Se você vai comparar, é mais progressivo tocar no Danzig que no Type O. As composições não são tão elaboradas, excessivas ou orquestradas como são no Type O Negative. Type O tem muita coisa em uma mesma música em qualquer tempo, quase o tempo todo. Tem sempre muita coisa acontecendo de uma vez. É bem intenso nesse aspecto. Já isso é mais básico, mais "rock" em relação as composições. Os arranjos musicas são definitivamente mais simples porque são curtos. Mas a base das duas bandas são a mesma - Black Sabbath, essencialmente Black Sabbath.
Type O definitivamente faz uma coisa diferente do Seventh Void, mas algumas vezes você consegue ouvir parte do Type O Negative em algumas músicas. Nós queríamos fazer algo um pouco diferente. Você não quer fazer a mesma coisa pois isso se torna repetitivo, e então seria como "porque estamos fazendo isso?". Se você quer fazer a mesma coisa que faz no Type O
Negative então faça com o Peter e o Josh. Nós queríamos algo diferente, mas longe o suficiente para que pudéssemos ser diferentes.

MS - Sim, mas o Type O é uma união estável.
JK - Sim, mas tem uma forte identidade. Penso que tem um caráter muito forte. Você consegue dizer de longe se o que está tocando é uma música do Type O Negative ou não, o que é uma coisa boa. Toda banda quer que você a escute no rádio e diga "isso é assim e assim". Nós só queremos sair daquela bolha por um momento e fazer algo mais básico ou algo assim. Algo diferente.
Só isso.

MS - Eu sei que é bem cedo, mas você vai manter o foco no Seventh Void?
JK - Sim, claro que eu gostaria de ver a banda indo bem. Eu adoraria ver muitas pessoas curtindo e tudo o mais. Mas isso não significa que eu não quero o mesmo com o Type O Negative. Eu curto muito estar no Type O Negative. Nós temos uma boa dinâmica, e eu acho que o Type O Negative continua fazendo coisas legais, principalmente por ser uma banda com quase 20 anos. Às vezes a agenda fica um pouco lenta, e você precisa fazer alguma coisa para se manter ocupado. Então foi bem assim que o Seventh Void começou. Estávamos com um tempo ocioso e começamos a trabalhar nisso.



MS - Existe alguma novidade sobre o Type O Negative no momento?
JK - Nós estamos resolvendo os detalhes com a gravadora para o próximo disco e tudo mais.
Nós precisamos organizar os materiais. E então poderemos colocar nós quatro num cômodo e começar a trabalhar. Eu falei com o Peter outro dia. Ele disse que tinha umas coisas escritas, isso é bom. Eu ainda não as escutei, mas é hora de trabalhar nisso também.

MS - Como você se sente com o seu legado com o Type O Negative até agora?
JK - Eu realmente não vejo isso com um legado.

MS - Sério?
JK - Eu continuo vendo que há muito trabalho a ser feito. Existe muita coisa que a banda nunca conseguiu realizar e que eu gostaria muito de ver acontecer.

MS - O que você gostaria que a banda realizasse?
JK - Talvez ir a novos lugares como o Japão, Austrália ou América do Sul. Tem muitos lugares que a banda nunca foi. Lugares diferentes que estão abertos a música. O Type O realmente está focado, na maior parte, na Europa e América do Norte. Nós tocamos em Montreal ano passado. Foi a primeira vez que estivemos lá em dez anos.

MS - Nossa.
JK - Isso foi por conta do problema legal com o Peter. Ao mesmo tempo, existem muitos lugares que a banda nunca foi por qualquer motivo. Seria muito bom nesse ponto da nossa carreira ir a novos lugares. Criativamente, acho que o Type O é muito legal e único do seu modo. Definitivamente temos bons materiais ainda na banda. Ninguém está colocando para fora somente por colocar. A banda praticamente se mata para fazer um álbum. Há muito trabalho nisso.

MS - Você ainda acha que a banda tem muito a dizer, musicalmente?
JK - Acho sim, com certeza. Se não, talvez seria a hora de procurar fazer outra coisa e deixar isso de lado. Não chegou a esse ponto. Continua sendo um desafio. Ainda restam lutas a serem travadas na banda.

MS - Pelo que pude notar, sendo um fã de Type O Negative pelo tempo você está na banda, a cada novo álbum eu ficava como "bem, esse será o álbum em que eles finalmente vão recuar um pouco." Cada álbum foi...
JK - Mais caótico.

MS
- Sim.
JK - [risos] É. Penso que o último álbum foi bem sólido. Acho que teve todos os elementos que fazem a banda ser legal. Nós colocamos a música mais longa que já escrevemos como última faixa. Nós sempre fomos conhecidos por tocar lento e sombrio, ou coisa assim. Teve coisas que estavam bem rápidas no álbum e então teve a música mais longa que já fizemos. Foi como o
Godzilla andando devagar. Foi legal. Continua sendo estimulante.

MS - Contando que continue funcionando.
JK - É, até agora continua sendo válido, e não somente pagando as contas. Precisa haver algo que te inspire, te motive, e não somente algum jogo financeiro ou merdas do tipo. Fazer dinheiro é importante. Nós precisamos disso da mesma maneira que todo mundo precisa [risos]. Está sendo apenas um pouco mais difícil ganhar.

MS - O que você pensa das músicas e da indústria atual?
JK - Como tudo, está tomando um golpe. A indústria músical estava apanhando antes mesmo do país entrar numa recessão ou numa recessão global. A indústria musical estava sendo severamente atacada. Isso só combinou os problemas. Definitivamente é difícil ganhar a vida. O preço de tudo subiu, menos o dinheiro que a banda ganha. Isso continua o mesmo [risos].
Às vezes menos. É difícil ganhar a vida.


MS - Você já considerou desistir por conta da dificuldade?
JK - Eu passo pela batalha o tempo todo. Mas acho que nesse ponto da minha vida eu estou bem comprometido. O que diabos eu poderia fazer? [risos]
Mesmo agora eu continuo atrás do sonho, continuo tentando chegar naquele clímax. Continuo curtindo. Continuo tendo bons momentos.

MS - Isso é importante.
JK - É sim. Nada bate ser pago para fazer algo que você fizesse de qualquer maneira. Sabe?

MS - Sim. E eu diria para não deixar ninguém saber que você poderia fazer isso de graça [risos].
JK - É.

MS - O que você está escutando no momento?
JK - Eu estava escutando Jet mais cedo.

MS - Sério?
JK - Sim, o álbum Shine On.

MS - Nossa.
JK - É, eu estava no trem e tinha levado meu Ipod comigo. E passando pelo meu Ipod eu pensei "Sabe, nunca parei para escutar esse álbum." Eu pego uns cds, coloco no Ipod e nunca os escuto. É como "ah, vou pegar esse". Eu tenho o novo álbum do AC/DC. Tenho o novo do Metallica. Mas nunca paro realmente para dar uma boa escutada neles.

MS - Mesmo?
JK - É. Então eu estava passeando pelo meu Ipod e então "Ah, vou dar uma olhada no novo álbum do Jet." Eu o tinha lá por um ano, e achei que seria bom sentar e escutar. Eu não iria a lugar nenhum pois estava em um trem.

MS - E o que você achou?
JK - Para o que é, eu achei legal. Eu gostei muito do primeiro álbum. Não fiquei extremamente impressionada, mas é um bom álbum. É um rock'n'roll bem tocado, bem cantado, bem produzido e tudo mais. É um álbum legal. O que mais estou ouvindo? Estou tentando lembrar do que tenho no carro. Eu tenho o Sgt. Pepper. The Best of Badfinger.

MS - Uau.
JK - [risos] Eu deixo sempre no meu telefone o Temple of the Dog, o Superunknown do Soundgarden, e qualquer coisa que esteja tocando na rádio XM. Eu escuto muito rádio e faço cds. O que mais eu escutei ontem? Ah, estava conferindo o novo álbum do Static X.

MS - Sério?
JK - Estava escutando ele em casa, ontem.

MS - E o que você achou?
JK - Eu achei bem legal. Soa como um Static X bem clássico. Eu não sei como ele consegue cantar daquele jeito [risos]. Soa como uma máquina. É uma viagem. Definitivamente é bem legal. Nesse álbum a bateria está bem orgânica e tudo mais. É um álbum bem legal. Gostei muito.



MS - Isso é legal. Quais são os bateristas que você admira?
JK - Tem tantos. Tem muitos bateristas bons por aí. Existem caras que tem habilidade na simplicidade, e tem outros que são clássicos e ótimos e que continuam na ativa, como o Phil Rudd do AC/DC. Bill Ward (Black Sabbath), sempre curti o Scott Travis do Judas Priest, Tommy Lee (Mötley Crüe) e Tommy Aldridge (Whitesnake). Tem também uns caras mais novos que curto
muito: Morgan Rose (Sevendust) é um bom baterista, Roy Mayorga (Soulfly, Amebix, Stone Sour) é um monstro. Esse cara é descontrolado. Ele é bom pra caralho. Gene Hoglan (Dethklok, Testament). Ele se fez sozinho. Fico até com vergonha de andar com ele [risos].
A última coisa que quero discutir é tocar bateria com esse cara. Pode não ser a minha onda, mas tem caras que definitivamente estão fazendo coisas legais que escuto no rádio. O baterista do Avengend Sevenfold é bem legal. Esqueci o nome dele. (James Owen Sullivan "The Reverend")

MS - Vou ser sincero, eu também não sei. Ele parece muito bom.
JK - Sim, ele é bom. Ele tem alguns truques e coisas assim. Não é só acompanhar o ritmo como alguns de nós velhos fazemos [risos].

MS
- Os caras mais novos, sem querer ser rude, faz você se sentir pressionado a ficar na sua?
JK - Bem, eu acho que tem sempre aquela competitividade saudável, mas sou mais duro comigo mesmo que qualquer outro. Estou sempre me impulsionando para o melhor trabalho. Eu sempre tento ser consistente e entregar o mesmo ou o melhor e ser construtivo naquilo. Só tente ser mais consistente e construtivo em tudo o que você fizer. Eu nunca estive realmente entre os
melhores bateristas que se manteram com truques e tudo mais por mais de quatro minutos. É tão estimulante que me deixa entediado [risos].
Se eu quiser ver um solo de bateria, eu assisto meu vídeo instrutivo. É melhor assistir a um solo de quatro minutos do que colocar numa música e deixá-la perdida.

MS - Você mencionou que ainda curte o baterista do AC/DC.
JK - Phil Rudd. Eu desafio qualquer um a fazer o que ele faz tão bem [risos].

MS - Quase faz seu ego sentar, eu diria.
JK - Não tem nem ego para esse tipo de disciplina, conseguir se manter tão bem. Nove de dez pessoas não conseguem. A relação é até mais alta que nove entre dez. Só sentar lá e tocar o mesmo instrumento com mais de uma pessoa e continuar no ritmo se tornou uma arte perdida. Você vê muito disso na música pop e coisas assim. Numa banda de metal ou hard rock raramente se vê hoje em dia. Muitos músicos querem mais ser vistos e ouvidos em vez de escrever uma boa música. Isso é o que o AC/DC faz, escreve boas músicas. Phil Rudd e Cliff Williams ficam no ritmo em uma boa música [risos].

MS - Você acha que esses valores acompanharão você no seu trabalho com o Seventh Void?
JK - Acho que sim. Pra mim o maior chute que tomei foi ouvir o Kenny cantando. O Kenny tem uma ótima voz e eu acho que essa é uma ótima maneira de mostrar suas habilidades vocais. Então esse é o maior custo de tudo. Acho que quando as pessoas ouvirem, vão ficar bem surpresas. Até mesmo quando o Vinnie nos ajudou inicialmente a mixar, ele disse "Eu não sabia que o Kenny tinha uma garganta assim." [risos] Pra mim é o que tem de mais impressionante. Eu acho que isso será o que as pessoas vão pensar quando disserem "Ah, os caras do Type O Negative estão fazendo isso" e então vão ouvir o Kenny cantando. Acho que é isso que os fãs de Type O irão gostar. Muitos fãs gostam do Kenny cantando. Às vezes alguns deles dizem "O Kenny deveria cantar mais."

1 comentários:

Unknown disse...

Oi!

Tem um selo pro teu blog lá no meu (Há um Demônio Atrás da Porta...).

Abç!