Comando Rock Entrevista com Josh Silver (2008)


Sem se preocupar com o sucesso e tentando sobreviver a uma série de problemas, a banda norte-americana Type O Negative lança o novo álbum de estúdio Dead Again, após quatro anos de silêncio.
O grupo, que alcançou o mainstream no início da carreira (em meados dos anos 90), perdeu popularidade após experimentações sonoras, mas principalmente por não conseguir nenhum grande hit como a excepcional “Black No. 1”. Mas isso nunca foi uma preocupação dos integrantes, que na verdade nunca buscaram o sucesso conforme nos conta o tecladista do conjunto Josh Silver: “o sucesso que tivemos naquela época (início da carreira) foi algo totalmente acidental e acho que se acontecer de novo será também”.
O novo álbum Dead Again, que acaba de ser lançado pela Hellion Records, mostra um apanhado da carreira e aborda alguns dos problemas enfrentados pela banda, como as drogas. O conjunto também homenageia músicos falecidos na faixa “Halloween in Heaven”, que conta com a participação de Tara Vanflower (do grupo Lycia).


Nesta entrevista exclusiva a Comando Rock, o tecladista conta sobre o novo álbum, o intervalo de quatro anos em relação ao antecessor, a homenagem aos mortos, a participação de sua amiga Tara e a imagem no mago Rasputin na capa do disco, comenta a idéia da gravadora de pedir aos fãs que gravassem comerciais sobre o novo CD, fala sobre os problemas com drogas, prisões e internações do vocalista Peter Steele, esclarece o possível convite ao vocalista para participar de um reality show, explica os problemas ocorridos no show em Birmingham (Inglaterra) e muito mais.


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Comando Rock: A banda está lançando o novo álbum de estúdio Dead Again. Como foram os processos de composição e gravação do disco?
Josh Silver: Ambos foram um pouco diferentes do que costumamos fazer. Neste disco passamos mais tempo na pré-produção, tocando e improvisando mais, até chegar a hora de ir ao estúdio. Na verdade não obedecemos nenhum tipo de regra. Acontece que nossas músicas mudam muito desde sua criação até a gravação. Elas passam por um período muito grande de crescimento e mudanças. Nesse meio tempo evoluem bastante.
Dead Again chega às lojas quatro anos depois do último disco Life Is Killing Me. Este é o maior intervalo entre álbuns de inéditas do conjunto. Por quê?
Josh Silver: Na verdade não foi tanto tempo. Desde nosso terceiro trabalho temos dado um tempo maior entre os lançamentos. Passamos algum tempo focados no desenvolvimento do álbum a mais do que normalmente fazemos. Este material também tem dez faixas, porém cerca de 80 minutos. Hoje, as bandas têm feito discos com cerca de 40 minutos. Assim é claro que fica muito mais rápido de se fazer um CD.
O novo CD traz elementos de todos os seus antecessores mostrando um pouco de cada fase do grupo. Como você diferencia Dead Again dos outros trabalhos?
Josh Silver: Ele realmente tem um pouco de cada disco, assim como os outros também. Este é diferente porque tem sua própria identidade. Algo que sempre buscamos com nossa música é que cada trabalho seja único. Fiquei meio decepcionado com Life Is Killing Me, pois em minha opinião ele nunca alcançou isso, nunca teve identidade própria. Mas estou realmente feliz com o resultado deste CD.
A faixa “Halloween in Heaven” é uma homenagem a músicos que já morreram, especialmente o guitarrista Dimebag Darrel Abbott (ex-Pantera). Como surgiu a idéia desta canção?
Josh Silver: Peter sempre gostou muito de Halloween. Acho que todo músico acaba não sendo totalmente estável quando se pensa em termos de personalidade. Você pode ser muito criativo sendo louco e a loucura também nunca atrapalhou o lado criativo das pessoas. Creio que esta composição foi a forma que Peter encontrou de homenagear pessoas que fizeram, em grande maioria, coisas estúpidas que acabaram levando ao final prematuro de suas vidas.
Falando em “Halloween in Heaven”, esta faixa conta com a participação especial de Tara Vanflower (do grupo Lycia).
Josh Silver: Peter sempre foi um grande fã do Lycia. Há algum tempo fiquei amigo de Tara e, quando Peter cantava a parte mais hardcore desta música, pensei que Tara poderia participar. Falei dessa idéia para ele, que gostou muito. Fez a melodia para ela e mandamos os arquivos pela Internet. Ficamos muito felizes com o resultado. A combinação da voz dela, que é leve e sensual, ficou perfeita com a voz do Peter, que por sua vez é algo mais cru.
A capa do álbum traz uma imagem que representa o místico russo Rasputin, porém os leigos poderão enxerga-la como uma imagem de Jesus Cristo. Vocês chegaram a pensar nessa coincidência?
Josh Silver: Nunca pensamos nisso! Rasputin tem uma cara conhecida. Acho que, em certa época do tempo, as pessoas realmente não tinham como se barbear diariamente e algumas figuras acabaram se parecendo. Ao mesmo tempo em que as pessoas vêem Jesus, outras pensam em Charles Manson. Fazer o quê? Acho que cada um deles foi um rock star de sua própria forma. Peter sempre teve vontade de colocar esta imagem na capa de algum disco. Rasputin foi um cara mulherengo, bêbado e egocêntrico. Um cara totalmente nojento que poderia facilmente fazer parte da banda. Pelo fato de ter o mito envolvendo a vida e morte dele, foi algo que casou perfeitamente com o que estávamos buscando e com o nome do CD. O fato de ele estar na capa de um trabalho nosso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Para a divulgação do novo álbum, o grupo promoveu uma disputa entre os fãs, que deveriam criar comerciais para Dead Again e divulga-los no YouTube (site de vídeos na Internet). Como surgiu essa idéia?
Josh Silver: Não sei te dizer, isso foi algo criado pela gravadora. O que fazemos para divulgar o disco são entrevistas e shows, o restante fica a cargo deles. Assisti a alguns vídeos e, como tudo na vida, uns eram bons e outros não prestavam (risos). Mas acho que é sempre legal ver os fãs se envolvendo com o nosso trabalho.
A faixa título do CD fala sobre o abuso de drogas, algo que tem afligido principalmente o vocalista do grupo. Como está essa situação atualmente?
Josh Silver: É algo que tem seus altos e baixos. Realmente não sento junto com ele e pergunto diariamente como ele está se sentindo. Mas sei que esse tipo de situação faz com que cada dia seja uma batalha. Sem querer começar a pregar qualquer coisa, ainda mais porque ninguém perguntou, mas para mim drogas não prestam (risos). É algo que não recomendo a ninguém.
Um momento crítico na carreira do Type O Negative foi a prisão do vocalista Peter Steele em 2005 e, em seguida, sua internação em uma instituição psiquiátrica.
Josh Silver: Foi algo complicado! Antes de qualquer coisa, acho que o mais importante é a pessoa que passa por esse tipo de problema querer se ajudar. Porque não tem como você arrastar alguém para tratamento se ela realmente não quer ajuda. Temos apoiado em tudo o que podemos, até vamos a reuniões e coisas do tipo para fazer com que as coisas melhorem.
Você acredita que esses problemas com vícios de drogas e álcool influenciaram diretamente na carreira do grupo?
Josh Silver: Acho que isso afetou sim, afinal as drogas não aceleram a composições das músicas, nem nas apresentações ao vivo. Mas acho que não chegamos aonde podíamos quando estávamos no mainstream, não foi causado apenas por isso. Durante os anos 90, quando estávamos na mídia, houve problemas com nossos empresários, coisas que foram afetando a banda aos poucos. Resumindo foi uma mistura de erros.
A banda nunca buscou o sucesso ou grandes hits, porém indiscutivelmente o grupo conquistou isso com seus primeiros trabalhos. Já os discos mais recentes não têm tido a mesma resposta comercialmente. Você acha que o conjunto pode voltar a alcançar o mesmo sucesso que já teve um dia?
Josh Silver: Isso é difícil de dizer! Tenho quase 45 anos, Peter já os tem e os outros membros da banda são um pouco mais novos, mas nem tanto. Sempre podemos escrever músicas que tocam nas rádios, mas não queremos nos preocupar com essas coisas. Fazemos o que gostamos. Se não estamos felizes com nosso trabalho como podemos esperar que os fãs fiquem? O sucesso que tivemos naquela época foi algo totalmente acidental e acho que se acontecer de novo será também.
Apesar do grupo não buscar o sucesso, muitos conjuntos principalmente do gothic metal que fazem sucesso atualmente declaram que o Type O Negative é uma de suas influências.
Josh Silver: Vejo tudo isso como um grande elogio. Não me importo com quão bem sucedidos somos, porque sempre saberei que fizemos uma coisa boa. Fomos originais em uma época em que as pessoas não criavam nada fazia tempo. Todos pegavam coisas que já existiam e recriavam. Me orgulho muito de fazermos nossas próprias coisas. Mas não costumo ouvir esses grupos. Sou um cara que ainda ouve Beatles e Black Sabbath. E sei que sou intensamente influenciado pelo Sabbath.
No ano passado surgiram rumores de que o vocalista Peter Steele foi procurado para participar do reality show The Surreal Life (algo semelhante a Casa dos Artistas). Esse contato realmente aconteceu?
Josh Silver: Não! Nem imagino de onde esses rumores vieram.
O que você acha desse tipo de programa, nos quais ícones do rock como Ozzy Osbourne e Gene Simmons têm participado?
Josh Silver: Pessoalmente odeio esse tipo de programa. Acho horrível!
Os demais integrantes do Type O Negative têm mantido alguns projetos paralelos. Qual a sua opinião a respeito?
Josh Silver: Na verdade não gosto de projetos paralelos. Na minha opinião, esse tipo de coisa acaba tirando o foco do objetivo principal, que é fazer o possível para que aquela banda dê certo. Por não achar isso legal e não me envolver em outros projetos, não tenho de me preocupar com esse tipo de coisa. Mas acho que isso acaba prejudicando os resultados que o Type poderia alcançar.
Após o lançamento do álbum, o grupo iniciou a nova turnê com alguns shows pela Europa. Em uma das apresentações na Inglaterra, mais especificamente em Birmingham, houve vários problemas. O que realmente aconteceu?
Josh Silver: O que aconteceu foi que Peter estava doente no dia. Ele estava tendo problemas para respirar e acabou indo para o hotel. Tinha de ficar na companhia de alguém porque estava semiconsciente. Ele foi examinado por médicos e para-médicos. Esse processo todo levou algum tempo e admito que não estávamos preocupados com o tempo, mas na resolução da situação que era tocar ou cancelar o show. O atraso real foi de 50 minutos. Nos preocupamos porque toda vez que tocamos fazemos de tudo para que a apresentação seja a melhor possível e não queríamos que nossos fãs se sentissem prejudicados com o resultado. O problema maior é que as pessoas na Europa vêem as coisas de uma forma diferente. Para mim o rock and roll sempre foi algo agressivo e furioso. Subir ao palco e tocar sempre foi uma forma de liberarmos aquela raiva. O fato das pessoas se sentirem agredidas por ter mostrado o dedo do meio para elas ou de Johnny aparecer rindo e filmando tudo achei bobo. Sempre fizemos essas coisas nos shows, não foi apenas naquela apresentação e nossa intenção nunca foi de agredir nossos fãs. Os europeus, melhor dizendo, os ingleses têm essa coisa de serem respeitosos, mas não podia imaginar que essa seria a reação das pessoas. Quando mostro o dedo para a platéia nos Estados Unidos, eles não levam para o lado pessoal, não parecem se preocupar com aquilo. Na verdade, na maioria das vezes, eles respondem iguais e também não me sinto mal com aquilo. Acho muito chato ter de ficar explicando para os outros das minhas ações. Mas não vou me sentar e chorar por isso. Sempre fomos assim e era de se esperar que as pessoas soubessem disso sendo nossos fãs. Se isso fizer elas mudarem de idéia e passarem a nos odiar, tudo bem. Sempre fomos uma banda odiada (risos).
E nos Estados Unidos como tem sido shows de divulgação?
Josh Silver: Tem sido muito bons. Também tivemos um cancelamento e isso virou polêmica de novo, mas quer saber? Acontece... É a vida! Não é algo que tivéssemos intenção de fazer, porque se fosse planejado nem teríamos ido ao local. Apenas ligaríamos avisando que não ia mais ter show. Já vi uma apresentação do Iron Maiden, no qual a voz do vocalista soava como um moedor de carne. Nos preocupamos em fazer um bom show e não desapontar nossos fãs, mas sabemos que não podemos controlar tudo.
A banda possuiu muitos fãs no Brasil, onde acaba de ser lançado o novo álbum. Existe alguma previsão de quando farão shows por aqui?
Josh Silver: Ainda não há planos, mas é algo que esperamos poder fazer no futuro. Nunca nos apresentamos em países da América do Sul e gosto muito de poder conhecer novos lugares.

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